O Preço dos Jogos Está Subindo — e o Brasil Está Pagando a Conta

Lucas Rocha

6/15/20253 min read

Introdução: quando o jogo deixa de ser acessível

Nos últimos anos, vimos uma elevação expressiva nos preços dos jogos. Títulos de grande porte, conhecidos como AAA, estão sendo lançados por R$ 350, R$ 400 ou até mais. Enquanto isso, os custos de vida no Brasil continuam altos e o salário médio segue limitado. Para muitos brasileiros, o que antes era um hobby virou um luxo.

Na StarPlay, estúdio de jogos independente brasileiro, acreditamos que o entretenimento não pode se tornar exclusividade de poucos. Esta é uma reflexão urgente que precisamos fazer como indústria — e como comunidade.

Por que os preços estão subindo tanto?

Há vários fatores que explicam essa tendência global de encarecimento dos jogos:

  • Orçamentos maiores: Grandes produções estão custando centenas de milhões de dólares. Red Dead Redemption 2, por exemplo, custou mais de US$ 500 milhões.

  • Valorização do dólar: A oscilação cambial afeta diretamente o mercado brasileiro, encarecendo tanto jogos quanto consoles.

  • Consolidação do mercado: Fusões e aquisições reduzem a concorrência real e aumentam o controle sobre os preços.

  • Demanda por retornos rápidos: A pressão de investidores força muitas empresas a buscarem lucros agressivos no lançamento, mesmo que às custas do consumidor.

Mas essa equação ignora um ponto fundamental: a acessibilidade.

O impacto no Brasil é ainda mais grave

De acordo com dados do IBGE, o rendimento médio do trabalhador brasileiro em 2023 foi de R$ 2.900. Isso significa que um jogo de R$ 350 consome cerca de 12% da renda mensal de um trabalhador comum — um número desproporcional para algo que deveria ser cultura e lazer.

O problema é ainda mais preocupante quando consideramos que o Brasil é o 10º maior mercado consumidor de jogos do mundo (Newzoo, 2023). Somos uma das nações mais engajadas em jogos eletrônicos, com uma base crescente de jogadores em todas as faixas etárias e plataformas — do mobile ao console.

As consequências são sérias:

  • Incentivo à pirataria, por pura necessidade.

  • Restrição à diversidade de jogos, já que o consumidor opta por poucas compras e sempre pelas marcas já consolidadas.

  • Redução no alcance das produções independentes.

  • Menor renovação de público, especialmente entre jovens de baixa renda.

O modelo atual é sustentável?

Os impactos vão além do bolso do consumidor. Dentro dos estúdios, vemos:

  • Casos recorrentes de crunch (trabalho exaustivo).

  • Demissões em massa, mesmo após resultados financeiros positivos.

  • Fechamento de estúdios que apostaram alto em apenas um jogo.

Isso mostra que o modelo inflacionado e centralizado não é apenas excludente — ele também é frágil.

O que propomos na StarPlay

Como estúdio indie brasileiro, escolhemos trilhar outro caminho. A StarPlay nasceu com três pilares:

  1. Acessibilidade no preço: nossos jogos serão sempre pensados para alcançar o maior número de pessoas possível.

  2. Diversão em primeiro lugar: gráficos lindos são ótimos, mas jogabilidade, criatividade e identidade importam mais.

  3. Respeito aos colaboradores: nenhuma experiência vale a saúde física e mental da equipe. Somos contra o crunch e a favor de jornadas justas.

Com escopos inteligentes e equipes enxutas, conseguimos criar experiências marcantes, com preços mais acessíveis e produção ética.

Caminhos para um futuro melhor

Nós acreditamos em soluções reais:

  • Políticas de regionalização de preços mais transparentes nas plataformas digitais.

  • Incentivos fiscais e editais de fomento para jogos nacionais.

  • Apoio de publishers e plataformas à produção local e autoral.

  • Valorização da diversidade de experiências e de públicos.

O futuro da indústria pode — e deve — ser mais humano, mais criativo e mais justo. Fazer diferente não só é possível, como necessário.

Conclusão: um jogo que todos possam jogar

O aumento de preços não é apenas uma questão econômica, é uma questão cultural. E no Brasil, onde a desigualdade é real, precisamos de uma indústria mais inclusiva.

Na StarPlay, estamos fazendo a nossa parte. E queremos dialogar com outros estúdios, desenvolvedores, jogadores e investidores que acreditam que dá pra fazer melhor.

💬 Como você enxerga o futuro dos jogos no Brasil? Vamos conversar.